Governança de dados no marketing enxuto

por set 6, 2025Planejamento Estratégico

Contexto

Seu time precisa decidir rápido sem depender de relatórios infinitos ou “achismos”, certo? O gargalo costuma estar em três pontos: (1) padrões frouxos (UTMs/eventos variando a cada campanha), (2) fontes divergentes para a mesma métrica (painel vs. CRM) e (3) cadência inexistente para checar qualidade de dados. O artigo propõe um kit mínimo para resolver isso.

TL;DR

• Padrões mínimos: UTMs, eventos e nomes congelados; dicionário de dados enxuto.
• Uma verdade por métrica: declare as fontes.
• Rituais leves: semanal (15 min) decidir pausar/escalar/testar; quinzenal reconciliação; mensal ajustes.

A maior parte dos times não erra por falta de dashboard. Erra porque cada campanha inventa um nome, cada relatório usa uma fonte diferente para a mesma métrica e toda reunião vira interpretação de ruído. E, sabemos, “governança” costuma soar como comitê e burocracia; mas aqui defendemos uma governança enxuta, com poucas regras imutáveis, rituais curtos e foco em comparabilidade. É isso que permite pausar, escalar ou trocar a peça antes de queimar verba.

Governança enxuta é liberdade com limites explícitos. Sem isso, qualquer ganho criativo vira sorte estatística; e sorte não fecha mês. O time ganha velocidade quando há:

  • Padrão pequeno e público para campanhas e eventos (UTMs e nomes estáveis).
  • Uma verdade por métrica (ex.: receita = CRM; sessões = GA4; mídia = plataforma).
  • Painel de decisão (não vitrine): KPI → conclusão → ação (“pausar / escalar / testar”).
  • Atribuição como experimento, não dogma: comparar modelos e registrar a escolha.

O custo do ruído (com contas simples)

1) Variância “caseira” de UTMs

Imagine três times. O time A usa utm_medium=paid_social; o time B registra utm_medium=SocialPaid; e o time C troca por paid-social. No GA4, o mesmo canal é quebrado em três e, se cada grupo gastou R$ 10 mil, você enxerga três canais de R$ 10 mil em vez de um de R$ 30 mil. Resultado: o ROAS aparente do “canal fragmentado” cai e decisões ruins se seguem (“não escala, está fraco”). O problema aqui não é o canal; é o vocabulário.

2) Dois números para a mesma receita

Seu relatório de marketing soma conversões de plataforma (“purchase value”), enquanto o CRM soma faturas. Diferença de 10–20% é comum quando não há reconciliação mínima (janela, dedupe, estorno), o que significa que você precisa encontrar uma fonte da verdade para a sua marca. Sem ela declarada, toda discussão vira opinião. E opinião não otimiza orçamento.

3) A bolha do último clique

Se 60% das conversões “aparecem” no último clique brand, parece que a verba de marca é a mais eficiente do universo. A verdade é que ela é apenas resultado de uma sequência de outras ações. Portanto, troque o modelo; passe a observar como parte desse crédito migra para mid-funnel. Se você nunca compara modelos, otimizou a operação para capturar o inevitável e não para criar demanda. É uma saída confortável, mas bem cara.

O consenso técnico que encurta caminho

  • UTMs canônicas: trave utm_source, utm_medium, utm_campaign com catálogo fixo e documentação acessível. Não é “frescura”: é a chave da comparabilidade histórica.
  • Sessões não são opinativas: no GA4, session_start já delimita sessão e cria o identificador; duplicar lógica gera contagem dupla.
  • Dados brutos fora do painel: export do GA4 + CRM mantêm integridade e permitem auditoria simples (recência, completude, consistência).
  • Visualização com limites: blends e campos calculados funcionam, mas têm contorno. Respeitar isso evita gambiarras que quebram no fechamento.

Essas definições formam a diferença entre o “achei estranho” e “o dado não cumpre o padrão X”. O que muda quando você opta por trabalhar com critério, e não com controle, pode ser dividido em três frentes: velocidade, conversas melhores e orçamento com mais método.

Velocidade: Padrão reduz atrito. Não há debate sobre nomenclatura nem caça a “onde está aquele campo”. Você olha o painel, confere dois checks de saúde e decide. Uma reunião semanal de 15 minutos sustenta isso. Mais do que isso, atrapalha.

Conversas melhores: Deixar explícito “receita vem do CRM” mata a disputa de gráficos. Definir “sessão vem do GA4” encerra discussões sobre contagens paralelas. O tempo vai para a causa do resultado (“a oferta cannibalizou assinatura?”) e não para o meio do resultado (“de onde veio esse número?”).

Orçamento com método: Quando a atribuição é tratada como experimento, seus investimentos param de seguir crenças de último clique. No curto prazo, dói perder “ROAS mágico” de brand. No médio, melhora a aquisição incremental — e a conversa com o financeiro fica simples: “mudamos o modelo, o crédito e o mix de mídia; aqui está a evolução de payback e receita líquida”.

Padrões mínimos que pagam o próprio custo

Vocabulário congelado: manter um catálogo único (uma aba de planilha) elimina variações e padroniza reports.

  • utm_source = plataforma (meta, google, tiktok, etc.).
  • utm_medium = canal (cpc, paid_social, email, push).
  • utm_campaign = AAAAMMDD_nomecurto_objetivo.

Tracking plan: a forma de garantir que o sistema criado será mantido.

  • Evento, intenção, campos obrigatórios, exemplo de payload, responsável.
  • Priorize eventos recomendados antes do custom.
  • Regra de vida: “sem intenção clara, não vira evento”.

Uma verdade por métrica: a definição que vai te dar fontes de verdade e te ajudar a trilhar caminhos melhores.

  • Receita = CRM.
  • Sessões/usuários = GA4.
  • Investimento = plataforma de mídia + conciliação contábil.
  • Qualquer exceção é documentada (por quê, quando, até quando).

Checks automáticos e visíveis: perguntas que precisam ser respondidas com recorrência.

  • Recência: dados de ontem chegaram?
  • Completude: % de eventos com UTMs esperadas?
  • Consistência: ROAS do painel ≈ receita do CRM dentro do desvio acordado.

“Mas vai burocratizar?”

  • “Padrão trava criatividade.”

Criatividade ganha quando a análise não vira gincana. Padrão é o piso, não o teto. Ele libera tempo para conceito, mensagem e oferta.

  • “Nosso negócio muda todo mês.”

Justamente por isso você precisa de comparabilidade. Quem vive em mudança precisa de estruturas estáveis para medir mudança.

  • “Não temos BI para isso.”

Você não precisa de squad para começar: catálogo de UTMs, tracking 1-página, fonte da verdade por métrica e três checks diários cabem em uma semana. O resto evolui.

Conclusão

Governança enxuta não é papelada: é critério aplicado. Com poucas regras que não mudam, dados deixam de ser um território de opinião e viram linha de ação. O time lê, decide e age. O orçamento para de perseguir o último clique. E a criatividade deixa de brigar com o dado — passa a usar o dado. Você começa a reconhecer que deu certo quando as decisões saem na reunião, e não depois delas; quando o report bonitinho de fato entrega insights; e quando o roadmap de mídia muda conforme análise minuciosa.

Referências

• Coleta de dados e atribuição do GA4 - google for developers

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